
São Vicente
Braga, 2024–25
Equipa
João Paupério
Maria Rebelo
Axelle Van Nuffelen
Elias Schmitz
Nora Van Severen
Fotografia
José Caldeira
São Vicente
Braga, 2024–25

O propósito deste feito de arquitectura encontrou-se no sentido de permanência tornado possível ao transformá-lo num ornamento funcional.




Entre o bairro das Andorinhas e o bairro da Misericórdia, em Braga, este pavilhão implanta-se na horta urbana de São Vicente, no contexto da celebração da cidade como Capital Portuguesa da Cultura 2025. Em si, a horta é um espaço de cultivo comunitário que, à semelhança de tantas outras hortas urbanas de periferia, carrega uma longa herança cultural e social. Inspirados nas construções dos jardins operários franceses — onde trabalhadores recém chegados à cidade encontravam não só um complemento à subsistência, como um lugar para o ócio, o encontro e a cultura — propusemos construir uma estrutura capaz de oferecer sombra, apoio e tempo partilhado aos hortelãos e à comunidade que com eles habita este lugar. Um monumento à vida quotidiana de quem trabalha para produzir a cidade: a sua e a dos outros.

Implantado no limiar entre a horta e o percurso pedonal do bairro das Andorinhas, o monumento assume a forma de uma estrutura de madeira quadrangular com 4 por 4 metros, marcada por uma secção triangular que economiza material e gestos construtivos. A face voltada para o bairro apresenta réguas de madeira pintadas alternadamente em rosa e azul, de onde se recorta um círculo de 1,40 metros de diâmetro. Este círculo gira sobre si mesmo, transformando-se numa mesa ou janela, activando a relação entre interior e exterior — entre a horta e o bairro. Do lado de fora, um banco acolhe quem por ali passa; do lado de dentro, um abrigo resguarda os hortelãos, criando um espaço de pausa, encontro e partilha. Entre ambos, a mesa circular torna-se ponto de contacto simbólico e prático — onde se podem partilhar excedentes agrícolas, conversar ou jogar às cartas.



Um espaço de transição entre trabalho e celebração, entre produção e partilha — onde a arquitetura, mais do que abrigo, se afirma como um gesto reivindicativo de cuidado contínuo na vizinhança. Supostamente efémera, o propósito deste feito de arquitectura encontrou-se no sentido de permanência tornado possível ao transformá-lo num ornamento funcional. Como propôs Tafuri a propósito do Teatro del Mondo, o efémero pode tornar-se eterno.


